O NORTE ESTÁ A ARDER

O Norte verde está a arder. Tudo aquilo que sempre conhecemos verdejante e fresco, está a converter-se num solo lunar, que levará muitos, muitos anos a reconstituir. Olhamos desolados para o fogo. Pedimos a todos o deuses que baixe um ente, um ser qualquer, que ponha cobro à ignomínia dos que, sem alma nem consciência, vão ateando o fogo pelos caminhos onde passam.
Percebemos que não. Percebemos que, na sua maioria, não são fogos postos. Não há bandido a quem atribuir culpa. Há matas que não são limpas há mais de trinta anos. Os solos estão carregados de combustível natural. O que antigamente era considerado roubo (a apanha da fagulha e ramos secos para uso doméstico e aconchego de animais), é hoje considerado uma benção dos céus!!! Pasme-se. O crime passou a dádiva, o pecado a obrigação.
Saio para a rua. São sete horas da manhã. O ar está carregado, mas não do nevoeiro, de que tanto gosto. Não cheira a oxigénio nem a frio. A rua não está limpa, nem as janelas lavadas. Fede a monóxido de carbono e a pinhas queimadas. Não são as pinhas do natal, de onde era suposto partirmos pacientemente pinhões. Fede a morte e a desolação.
O país está a arder. Já assim é há muitos anos, mas sem que ninguém se mova. Esperamos sempre, crentes, que o ano seguinte seja piedoso e benéfico, sem que para isso precisemos de mover uma palha para ajudar. Já quase não há água. A desertificação é, cada vez mais, um dado adquirido.
Falta menos de dez anos para que tudo o que conhecemos como o hoje se transforme num percurso árido e inumano. É urgente intervir. Enquanto há tempo.