A RAINHA MARGOT
O filme retrata a França em 1572, quando do casamento da católica Marguerite de Valois e o protestante Henri de Navarre, que procurava minimizar as disputas religiosas, mas acaba servindo de estopim para um violento massacre de protestantes conhecido como a "noite de São Bartolomeu" , que teve a conivência do rei da França Carlos IX, irmão de Margot.
O filme, que retrata esse trágico acontecimento, é baseado num romance de Alexandre Dumas.
(História.net)
"Um dos acontecimentos, por exemplo, que nos faz pensar na ação do inconsciente no curso da história é o da "Noite de São Bartolomeu" e de toda a conjuntura que lhe é contemporânea. E o que pôde suscitar essa reflexão foi a análise de um filme que, não obstante esteja nos limites do ficcional e do não-ficcional, possui um forte sentido histórico. Tomemos como exemplo, agora, o filme A rainha Rainha Margot, vislumbrando mesclas do contexto histórico e psicanalítico dos fatos evidentes nos primórdios da Idade Moderna, quando a Europa convivia com a ascensão da burguesia e com a consolidação do absolutismo. Baseado no livro de ficção La Reine Margot, de Alexandre Dumas, publicado em 1845, o filme traz uma versão realista da história, revelando a psicologia das personagens, seus atos e gozos sexuais desregrados.
Durante o século XVI, precisamente no ano de 1572, católicos e protestantes se enfrentavam em uma guerra civil intermitente. Nesse contexto, a rainha Catharina de Médici e Jeanne D’Albert, com o objetivo de consolidar a paz e estabelecer uma aliança entre os Valois (protestantes) e os Bourbons (católicos), firmam o casamento de Margerithe de Valois e Henrique de Bourbon (Rei de Navarra).
Em seu contexto político-religioso, encontramos dois partidos de interesses opostos: os "huguenotes" (liderados por protestantes e chefiados pelo Almirante Colgny, o melhor amigo do rei) e o "Papista ou Santa-Liga" (formado por católicos e chefiado pelos Guise). No período que sucede o casamento, que a princípio traria a paz para a França, ocorre o episódio que mata mais de trinta mil protestantes na madrugada da comemoração católica pelo Dia de São Bartolomeu, quando, para evitar um golpe huguenote, a rainha Catharina ordenou o assassinato de Colgny e seus seguidores, num massacre conhecido como "A Noite de São Bartolomeu", evidenciando a rivalidade política dos partidos que usavam a religião como "pano de fundo" para encobrir outros interesses.
Numa visão psicanalítica, a Família Real sofria a ausência da Lei de Interdição (ou seja da Lei do Pai). A figura materna, ora representada por Catharina, vivenciava uma relação incestuosa, uma vez que não havia a presença do Pai (aquele que controlaria as pulsões sexuais), representando uma "mãe-fálica", aquela que exerce uma postura forte no exercício do poder, acarretando a ausência do "feminino". Entretanto, ela alimentava uma forte ligação com seu filho, Anjour, que faz extrapolar o limite do Édipo imaginário, exercendo o amor incestuoso e real. Há também comportamentos sexuais perversos dos sujeitos masculinos; tratando-se de uma outra estrutura (a "perversão"), na qual o desejo é tomado de modo diferente na sua dialética com o falo, ou seja, o desejo é colocado como imperativo de gozo ( um "imperativo superegóico").
O amor , no contexto real da corte, era algo que não se podia demonstrar, um meio fácil de poder atingir o outro através do sujeito apaixonado. Toda liberdade que se tinha disponível para o sexo entrava em contradição com a forma de amar, pois o amor só poderia existir no âmbito familiar. O personagem La Molle, por exemplo, sempre insinuou a beleza e a liberdade do amor em Navarra, visto que, naquele reino de poder, era perigosa a relação amorosa entre ele e Margot, sendo este sentimento comparado à morte (a forma encontrada para destruir alguém). Outro momento importante no filme que representa o que afirmamos acima é o que trata do amor de Henrique de Bourbon por Charllote, que no decorrer da história só não lhe trouxe a morte devido à interferência de Margot que o salva do beijo envenenado e afirma: "aqui não se pode demonstrar a quem se ama; esta é a forma que eles acham para te destruir, com quem se dorme". Seria o amor sinônimo da morte?
Margot encontra-se perdida entre o seu casamento imposto e as questões graves refletidas no "feminino". Seu comportamento sexual predominante é o de se oferecer como objeto, a exemplo do ocorrido em sua noite de núpcias — ela doa-se ao seu amante e diante da frustração obtida pelo "não", sai às ruas numa "busca de homens", assumindo um comportamento sexual, em geral, masculino: o da procura, da caça ao prazer. Ela aparece entre o "masculino" e o "feminino", conseqüência de pertencer a uma família de homens com estruturas perversas (homossexuais). Parece que é interdita redimida ao amor, até que se apaixona por La Mole (protestante), ao qual se entrega, a princípio apenas como objeto de prazer. Entretanto, o verdadeiro amor transforma-a em "sujeito", em alguém apaixonada e capaz de enxergar os limites e as contradições de sua família, confrontando-se, então, com sua mãe e evidenciando o ódio entre ambas. O amor a retira da posição de objeto desvalorizado no qual o gozo assume a dimensão permanentemente masoquista e a torna sujeito, pois a metáfora do amor exige também a posição de sujeito desejante. Dessa forma, Margot tem vislumbres de algo do real que outrora não identificava em sua relação com os irmãos.
Apenas distante da família, Margot poderia amar. A morte de La Mole traz a dimensão do seu amor ao nada, assumindo, ao final, a forma de fetiche: a cabeça do amado é preservada, conservada, fetichizada como objeto significante do desejo. E então, ela parte para Navarra, onde lhe seria permitido amar. A incriminação de La Molle por Catharina traz o preço a ser pago por ela ter violado a "lei do amor", pois se tornara sujeito imperativo, acentuando, como já foi dito, a rivalidade e o ódio entre ambas. Tal ódio é demonstrado claramente pelos atos de Catharina que desejava, a todo custo, destruir a feminilidade de sua filha.
O Rei Carlos IX apresenta, como todos os irmãos, uma carência paterna intensificada, percebida em sua relação com Colgny e, posteriormente, com o seu cunhado Henrique de Bourbon (apresentando traços de homossexualidade). Encontrava-se diante do poder supremo, e o seu amor por Marie era algo velado, sendo apenas revelada a existência de sua amante e filho bastardo a Henrique de Navarra no instante em que se estabelece uma grande amizade entre ambos."
(Arthur Prado Netto, in O Caso "A Rainha Margot": Psicanálise e História)
(Imagens: Comunidad, Umbrellaent,DVD.net, Vincent Perez)
Excelente momento televisivo com que a RTP 1 nos brindou no passado fim de semana. Pena ser tão tarde e tão poucas vezes. Quando deixarão de transmitir porcarias e passam a investir em filmes e documentários de qualidade? É que tanta novela estúpida e tanto teatro político e futeboleiro já cansam!
O filme? Esse espero vê-lo outra vez.
25 Comments:
Que texto enorme! Vou guardar para ler logo à noite, com mais vagar. Onde andaste, rapariga? Perdeste a farra desta manhã!!! Mas ainda vais a tempo de apreciar os prémios...
BeijInho
Boa tarde!:)
A trabalhar. Julgas que tenho a tua vida?:P
BeijInha
xiiiiiiiii, é muita letra!
já volto.
Olha, sabes, eu cá prefiro ser eu a brindar com o copo cheio :) Vai daí, a minha televisão ter, a maior parte do tempo, duas opções: ou desligada ou na RTP2. Quando o gajo grande chega a casa, temos festa, claro: o comando da Tv até ferve de tanto ser mexido. Até me mete impressão!
Aceito a tua sugestão cinéfila, sim senhora! Quem sabe, já no próximo fim-de-semana :)
(qt ao "cão", vou ter que pensar seriamente no assunto e tratar do gajo devidamente; deixa passar esta primeira fase do ano)
Lúcia! Já aqui!lollll Já aqui!
Isto aconteceu meramente por acaso, que até é raro eu ver o canal 1. A nossa TV é tão boa como isso!
O filme é um espanto, só te digo!:)
(aguardo ansiosamente o desfecho...:D))) )
A Margot rainha? Não posso querer!
Não te agrada? E que dizes a "ministra" ou a secretária de estado"?:P
Olá de novo ;-)
Vim aqui porque me está mesmo a apetecer dar-te um doce... Após a tua falta de comparência esta manhã.
*coff* *coff* *aaarrrhhhptuuhhh* *coff* *coff*
Aaa...aaaaaa.....aaaaaaaaaa.....aaaaaaaatchiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiimmmmmmmmm!!!!!!!!!!!
*coff* *coff*
Be *coff* ijos *coff* *coff*
Eu conheço os teus doces!...
Tu pra mim vens de carrinho!...:P
Santinho!:)
Oh Montenegro, tadinho... pronto, pronto, muitos miminhos para o nosso menino... já passou...eheheheh
BeijInha
Já tinha saudades de sentir o teu perfume...volto todos os dias...
Doce beijo
O critério de exibição a horários fora de horas de programas de qualidade é algo aque as diversas estações já nos habituaram... infelizmente!
Bons olhos te vejam alquimista.:)
Uma beijInha doce para ti também!:D
Pois é MFC! E depois levamos com meia hora de publicidade pelo meio... e é assim. Verdadeiro serviço público. ;)
Rosarinho, a culpa não é minha, é do psiquiatra! Viste o filme? 8-)
(vale a pena, sei que gostas de cinema...;) )
Em fantasia (filme) ela pode ser tudo o que quiser...
Pois pode. E tenho cá pra mim que és o primeiro da fila a assistir. Nem piscas... certo?lolllllllll
Ainda só vou no 3º parágrafo. :-)
Porra! Eu já tinha lido um jornal inteiro!!!...:(
Ovelha que bale bocado que perde!
Isto tem quantos capítulos ? Méééééé ... Sabem que os veterinários do Hospital de Animais da Charneca da caparica só tratam de cães e gatos ? No outro dia, um amigo meu foi lá com um mé-mé que tinha sido abandonado, quase a morrer de fome e frio. Devolveram-no à procedência. Não é cão nem gato. Não acredito que um veterinário qualquer não saiba cuidar de um bichinho destes. Mas devia estar a dar futebol na tv ...deve ser ... Havia de ser comigo !
Se um cão for atropelado na estrada não há instituição que o recolha, aqui para os meus lados. Satisfeita?
Não me faças dizer palavrões. Já me chega a socratrina e o casado silva.
69, não tens emenda... definitivamente!:D)))
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