Blog Inha
Deixa-me ser o que sou, o que sempre fui, um rio que vai fluindo...(Mário Quintana in "Deixa-me seguir para o mar")
setembro 21, 2007
setembro 11, 2007
A DIVINA COMÉDIA
(Inferno/Canto IV)
"Violento estrondo interrompeu aquele torpor profundo, despertando-me qual homem que em sobressalto acorda. Movi o olhar pelo que havia ao meu redor, ao longe e perto. De pé me ergui, procurando conhecer o lugar onde me encontrava. Eis a verdade: descobri-me à borda de insondável e tenebroso abismo, do qual subiam brados e infindos ais. Tão escuro, profundo e nebuloso era tal pélago que, por mais aceso que eu nele fixasse o olhar, alguma coisa reconhecia."
"Agora, desçamos ao mundo das trevas", principiou a dizer o Poeta, soturnamente. "Irei à frente, serás o segundo."
"Ele entrou, e assim me fez entrar no Primeiro Círculo, conde o abismo principia a estreitar-se. Ouvi, não o costumeiro e lastimoso chorar, mas apenas suspiros que ondulavam no inteiro espaço qual brisa leve. Provinham de um sofrer sem amargura, padecido por grande turba, na qual se misturavam homens, mulheres e crianças."
"Disse-me o bom do Mestre: "Não perguntas que espíritos são estes? É bom que os conheças, antes de seguir adiante. Não pecaram, mas embora possuindo méritos, para entrarem no Céu, faltou-lhes o batismo, umbral da Fé em que, ditoso, crês. Viveram antes do Cristianismo, portanto não tributaram a Deus a adoração devida. Eu sou um dos que, por este modo penam. Por tal motivo, e não por qualquer defeito, perdemos o Paraíso. A nossa pena é simplesmente esta: arder em desejo, sem a esperança de saciá-lo."
(Dante Alighieri - Excertos retirados do Projecto PROIN/Brasil)
(Ilustração: Gustave Doré)
Porque estou farta de outras comédias.